segunda-feira, março 20, 2017

Palavras de quem precisou partir

Eu não queria, amor. Juro pra ti que naquele momento minha maior vontade foi largar as malas na porta do prédio e voltar correndo ao teu encontro. Dizer que estava tudo bem, que era possível esquecer qualquer coisa e me prender só ao amor. Que esse sentimento tão silencioso e gigantesco era o bastante pra me fazer ficar e suportar nossa relação turbulenta.
Queria abraçar teu travesseiro até pegar no sono e fingir que nada daquilo estava acontecendo. Términos doem. Até mesmo em quem decidiu ir embora, e essa pessoa era eu. Com olheiras fundas e lágrimas que ainda escorriam pelo rosto eu assisti enquanto o taxista colocava minhas malas no porta-malas e me olhava com pena. “Você precisa de ajuda?” perguntou ele, disse que não. Não precisava, ninguém poderia me ajudar. Eu estava indo sem você; e ninguém poderia remediar isso.
Ninguém poderia me ajudar com o fato de ter apenas uma escova de dentes no meu banheiro agora. Ou de não encontrar mais um par de chinelos ao lado da porta. Ninguém me ajudaria com os dias em que chegaria tarde em casa e iria precisar de um café quente e cafuné. Ninguém poderia fazer isso por mim, ninguém poderia ficar no seu lugar. Outra pessoa, um dia, talvez, ocupasse um posto diferente e eu viesse a ser feliz, mas não no seu lugar.
O que o taxista poderia fazer pela menina que deixou o mundo desabar bem a sua frente tendo plena consciência de que nada podia fazer? O castelo de areia estava desmoronando. E ela assistia, bebendo chá ou qualquer coisa quente, enrolada numa coberta aconchegante. Até agora não tinha experimentado nada mais triste que ver isso morrendo e não poder me mexer. Eu estava petrificada. Ah, moreno. Nossas idas e vindas doíam mais em mim que qualquer agulha já doera –e sabe que tenho muito medo delas. Resolvi partir, meu caro, porque ficar e te assistir ir embora seria permanecer num cemitério de sentimentos. E nunca tive vocação para coveiro.

Eu tive que ir, rapaz, mesmo querendo ficar. 
Você sabe, partir às vezes é a melhor forma de amar alguém. 

— Bruna Barp



OBS: O texto em NADA tem a ver com a vida pessoal da autora. A situação e personagens são apenas fictícios. 






Foto: We heart it

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