É que é tão cedo, e eu sei que o relógio aponta três da madrugada, mas aqui dentro passa devagar.
É cedo pra decidir ir embora, moreno, porque se assustou com a minha intensidade. Pra falar a verdade, tu só viu a superfície, aqui dentro é mais fundo do que eu mesma poderia medir.
Então, se eu fizer um café, fica mais um pouco? Pra discutirmos nossas teorias sobre os astros enquanto o aroma toma nossas narinas...
E se eu prometer tentar conter o lago dentro de mim, ou te oferecer um colete salva-vidas? Tu bebes mais uma xícara?
Não é o primeiro a se assustar, moreno, mas pode ser que resolva não ir embora. Quem sabe? O destino sempre brincou com a minha cara. É que eu não sei ser pouco, rapaz. Muito menos aprendi a conter sentimentos. Como pode ver, são tão a flor da pele, que quase brotam.
Mas se aceitar ficar, e falar mais um pouco, posso te convencer de que vale a pena. O lago é fundo, mas turvo só lá embaixo. De toda forma, se eu fosse tu, dispensaria até mesmo o colete.
Porque sabe, que graça tem não se arriscar? Tu podes se afogar, ou aprender a nadar e, vez ou outra, mergulhar às profundezas.
Lá também é bonito, aconchegante, e o que eu mais gosto: transborda.
— Bruna Barp
OBS: O texto em NADA tem a ver com a vida pessoal da autora. A situação e personagens são apenas fictícios.
Foto: We heart it
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