sexta-feira, agosto 19, 2016

Sinto tanto

_Mas você gosta dele.
_Gosto nada.
_Claro que gosta.
_Não, cara, foi coisa passageira! _gritei para minha melhor amiga, enquanto ela me dava as costas. Já não era tempo de deixar-me lá, para conviver com meu sentimento.
Ela estava cansada de tentar me fazer admitir, pensar, cogitar... Qualquer uma dessas possibilidades me deixava assustada, como um cão acuado, sem saber como dar o próximo passo, sem querer sair do lugar. A dificuldade sempre foi entregar.
Entregar um sentimento, um olhar, entregar o jogo ou me entregar para o amor. Não gostava de ter que entregar nada, receber era tão fácil, eu não queria ser recebida. Eu queria chegar com tudo que tinha direito, e eu tinha.
Meu medo não era complicado de entender: eu não sabia lidar com reciprocidade. Essa coisa de ter o sentimento do outro voltado para mim na mesma intensidade era um território perigoso, e eu procurava me manter fora dele. Como nunca pude impedir o sentimento dos outros, eu aprendi a evitar os meus.
Sempre há um lugar em que a gente pode escondê-los, disfarçar, mascarar. O que eu ainda estou tentando fazer é achar a fórmula para não deixá-los nascer, meu caro. Porque eu evito, desvio o olhar, viro a esquina, mas eles continuam ali, esperando qualquer vacilo. E você sabe, eu não posso vacilar. Foi um privilégio que descartei há tempo suficiente para entender que deixar escorrer sentimento resulta em inundação. E uma vez eu quase me afoguei.
Só que ao invés de aprender a nadar, eu corri da água. Corri para bem longe, sem deixar que tocasse sequer as pontinhas dos dedos dos pés. Sabia que a brisa me convenceria a entrar naquele oceano profundo que era o coração, e eu queria manter o meu a sete chaves. Talvez alguém tivesse a oitava. Talvez eu traísse a mim mesma e, de tão bêbada, corresse para o mar de sentimentos que estava trancado aqui dentro.
O fato é que eu não queria sentir, não quero. E finjo que não sinto o tempo todo. Minto para mim mesma. Talvez nem exista a oitava chave, ou quem sabe existam oitocentas. Eu não sei.

E estou evitando saber, mesmo que eu sinta. E eu sinto muito.

— Bruna Barp



OBS: O texto em NADA tem a ver com a vida pessoal da autora. A situação e personagens são apenas fictícios. 



Foto: We heart it

10 comentários:

  1. "O fato é que eu não queria sentir, não quero. E finjo que não sinto o tempo todo. Minto para mim mesma. Talvez nem exista a oitava chave, ou quem sabe existam oitocentas. Eu não sei."
    Muito perfeito esse texto! Simplesmente amei cada frase. Mais uma vez está de parabéns pelos textos belíssimos. Beijinhos da Gabi

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    1. Ahhhh muito obrigada Gabi, adorei a escolha de trecho ♥
      Beijinhos da Bru!

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  2. Gente!! Que texto lindo e perfeito *--* Acho que me apaixonei por ele, rs. Fiquei até sem palavras depois de lê-lo ♥ Parabéns!!
    Beijos ^^

    http://mecativaste.blogspot.com.br/

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    1. Se ficou sem palavras, eu amei HAHAHAH muito obrigada Andressa!
      Beijinhos da Bru ♥

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  3. Eu sou completamente apaixonada nos seus posts! Este, em especifico diz muito sobre meu eu do passado, mas as coisas mudam, graças a deus!

    http://www.pinkisnotrose.com

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    1. E ainda bem que mudaram, Carol! Fico muito contente que seja apaixonada por eles HAHAH obrigada, beijinhos ♥

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  4. Que texto lindo me apaixonei
    Segui seu blogue

    Beijinhos com carinho,
    http://oivamossonhar.blogspot.pt/

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  5. Lindo o texto! Eu acho que a maioria das pessoas já mentiram pra si mesmas, não queremos aceitar certas situações. Muito reflexivo! bjs
    www.pilateandosonhos.com

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    1. É, acho que sim, Ciana! Hahahah Obrigada, beijinhos da Bru!

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