quinta-feira, julho 28, 2016

Joga ou se joga

_Está bem, você ganhou, pode comemorar e levar suas coisas daqui.
_Mas eu não ganhei.
_E então por que sinto que perdi?
_Acho que nós dois perdemos.
Ele disse, enquanto tirava suas camisas dos cabides. Eu tinha esvaziado uma parte do guarda-roupa para que coubessem suas roupas, e a escova de dente dele ainda estava no banheiro. Parte de mim queria que ele a esquecesse, assim eu teria um motivo para bater na porta do apartamento dele à uma da manhã e devolver a droga da escova.
Sempre achei que quando esse jogo acabasse fosse me sentir leve. No mínimo vitoriosa, mas acho que perdi no jogo que eu mesma inventei. Me propus a jogar com ele, criei as regras, comprei um tabuleiro –parecido demais com minha vida, aliás. Infelizmente, esgotamos a paciência ou qualquer excitação em jogar rápido demais, jogos com muitas regras não deixam liberdade alguma e, no fim, acabamos presos nisso tudo. Quando só o que eu queria era provar estar certa.
Às vezes, renunciar a razão poderia ter resultado em pinos ainda ativos, prontos para jogar o próximo dado. Mas eu nunca fui de abrir mão de alguma coisa, principalmente quando essa coisa fosse a intitulada vitória, que eu estava tão preocupada em conquistar. Em erguer como um troféu, em fazer entender que o jogo estava ganho desde o início.
Eu perdi, você perdeu. Tudo no meio do caminho foi perdido. As risadas acabaram hipotecadas enquanto eu acumulava razão. Quanto ao amor, ah, esse eu vendi. Eu queria a maldita razão... o que não sabia era que é preciso perder a razão para ganhar amor. Acho que eu perdi os dois. Porque perdemos o jogo, viramos o tabuleiro, desistimos.
E eu fiquei aqui, sem amor e sem razão. Porque eu não quero ter razão sem amor, só que esse eu já perdi faz tempo. E quanto a você, cara, acabou deixando o jogo comandá-lo. Acabou deixando que eu ficasse no controle de tudo, e esse talvez tenha sido o erro. Eu nunca soube nem jogar videogame, eu não sou boa com controles. Nem de coisas, nem de pessoas, tampouco de relacionamentos. Eu não devia ter o controle de nada, rapaz, mas você deixou em minhas mãos.E em minhas mãos não cabem nada, meu caro, mas encaixa às tuas –talvez eu devesse ter jogado lego, ao invés de banco imobiliário. 
Ah, eu e essa minha mania de envolver jogos em tudo, quando a única regra do amor é se jogar.

— Bruna Barp



OBS: O texto em NADA tem a ver com a vida pessoal da autora. A situação e personagens são apenas fictícios. 



Foto: We heart it

4 comentários:

  1. Olá lindona,
    eu amo seus textos. Acho que toda semana estou aqui visitando o blog. obrigada pelo tempo que você gasta para nos proporcionar momentos únicos.
    Beijos.

    meumundosecreto

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  2. Ai que amorrrr! Muito obrigada Vanessa, espero que continue visitando e todo tempo que eu "gasto" é tempo ganho quando alguém lê! ♥
    Beijinhos da Bru!

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  3. Olá Bruna. Ótimo texto que você fez, assim como todos os outros. Continue escrevendo muito, porque você tem talento, potencial e, acima de tudo, sensibilidade e visão sobre o mundo que está à sua volta, e tu consegues traduzir sua visão peculiar em textos incríveis. Um grande abraço!!!

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  4. Oi Vini! Muito obrigada pelos elogios, se eu parasse de escrever simplesmente não seria mais eu HAHAH
    Abraço!

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